O livro que estou lendo no momento me trouxe a confirmação a respeito de algo que observei há um tempo. O livro se chama A Única Coisa, do autor Gary Keller e no capítulo 5 ele fala sobre a pessoa multitarefas.
Uma pessoa multitarefas é alguém que, em tese, consegue fazer várias coisas ao mesmo tempo. Porém, na prática, não é bem isso que acontece.
O autor traz o exemplo de um computador. Na década de 1960, o termo “multitarefas” era usado para descrever computadores capazes de realizar muitas funções simultâneas.
Mas, a escolha da palavra não foi muito conveniente, já que nem mesmo um computador processa ações ao mesmo tempo. A rapidez com que ele pula de aba em aba, dá a impressão de que tudo acontece ao mesmo tempo. Mas o que de fato acontece, é que ele alterna muito rapidamente entre cada janela ou aplicativo que nós abrimos.
Por que eu tive que falar dos computadores? Porque infelizmente, algum ser humano em algum momento da história resolveu nos comparar a eles.
Você consegue fazer duas ou mais coisas ao mesmo tempo, como andar, falar e procurar a chave de casa na mochila. Mas você não consegue se concentrar em todas elas. A sua atenção fica indo de lá pra cá e de cá pra lá. Isso não afeta em nada os computadores (bom, às vezes eles ficam lentos né), mas nas pessoas as consequências são bem mais desagradáveis.
Um dos trechos do livro foi um verdadeiro tapa na minha cara. Gary cita Clifford Nass, um professor de Stanford fascinado pelas pessoas multitarefas. Depois de uma pesquisa feita com 262 alunos divididos em dois grupos, os multitarefas e os “normais”, ele percebeu uma coisa que o deixou frustrado.
O professor tinha certeza que as pessoas que conseguiam fazer várias coisas ao mesmo tempo tinham algo de especial. Porém, o que ele descobriu foi que elas são apenas viciadas em irrelevâncias. Elas não são capazes de se concentrar no que é importante, ao invés disso se mantêm “ocupadas” com trivialidades.
O resultado do grupo de pessoas multitarefas foi inferior. E apesar de elas terem se convencido de que eram boas em fazer várias coisas ao mesmo tempo, o professor notou o contrário, elas não conseguem fazer nada direito.
Fazer várias coisas ao mesmo tempo é meramente a oportunidade de ferrar com mais de uma coisa ao mesmo tempo.
– Steve Uzzell
Quando entrei para o mundo corporativo, eu realmente comecei a pensar que para ser uma boa profissional eu precisava ter essa habilidade de fazer 2, 3, 4 coisas ao mesmo tempo. Isso nos dá a sensação de que estamos arrasando e fazendo mais em menos tempo.
Mas quando a gente divide nossa atenção em várias coisas, acontece que ou não conseguimos terminar todas, ou terminamos todas com nenhum resultado bom.
Lembra que eu disse que trocar atenção de uma coisa a outra trazem consequências desagradáveis? Uma das coisas que eu percebi há alguns meses, antes mesmo de comprar o livro, foi que quando eu tentava terminar minhas atividades mais rapidamente no trabalho, eu sempre terminava o dia esgotada, como se tivesse trabalhado 12 horas ao invés de 8.
Isso acontece porque nosso cérebro demora um pouco para se adaptar
às mudanças de foco. Eu vejo a verdade dessa afirmação todas as vezes que entro na sala do meu chefe para tirar alguma dúvida e forço ele a desviar o foco do que estava fazendo, e voltar a atenção para mim.
Algumas vezes ele me olha com uma expressão confusa e diz “o que, Ana Luiza? fala de novo, por favor”. Então eu faço a pergunta novamente e aí ele consegue me responder.
Esse pequeno processo de mudança de foco causa um desgaste mental que vai além do necessário. Se manter concentrado por si só já é um desafio porque nossa mente não para. E aí quando estamos no modo multitarefas, obrigamos nosso cérebro a repetir o esforço da concentração várias e várias vezes.
Tá explicado porque eu sentia que trabalhava 12 horas por dia.
Agora imagina alguém que, deliberadamente, interrompe alguma atividade importante para olhar as notificações no celular cada vez que ele apita. Ser multitarefas tem um preço e nem todo mundo se dá conta de que está pagando.
No entanto, é claro que não precisamos levar isso ao pé da letra.
Podemos passar roupa e ouvir música, andar e falar ao telefone, assistir um filme e ler legendas. Mas o que precisamos ter sempre em mente é que não se pode concentrar 100% em mais de uma atividade.
Por isso, o impacto é mais intenso em situações que envolvem tarefas importantes como um e-mail para o chefe, a leitura de um texto para uma prova ou a escrita de um post como esse.
Para quem tem o hábito de fazer malabarismos entre atividades, pode ser muito difícil começar a fazer uma coisa de cada vez. Digo por experiência própria.
Logo quando percebi que esse hábito estava me fazendo mal, antes mesmo de ler o livro, eu comecei a testar a mudança dentro do trabalho.
Minha nossa.
Era uma agitação nas pernas inexplicável. A sensação de perda de tempo era e ainda é inquietante. Mas agora que já entendo perfeitamente o que acontece, ficou mais fácil.
Quando você planeja seus principais passos, é porque você sabe muito bem o que é prioridade e o que pode esperar. E agora que já desmistificamos a ideia do ser humano multitarefas, fica mais fácil se concentrar no que de fato é importante, sem a sensação de que estamos perdendo tempo.
Convido você a começar a prestar atenção na maneira que executa tarefas que exigem concentração. Você deixa a TV ligada? Quantas abas ficam abertas no computador? Quantas vezes seu celular tira você do estado de foco? Aquele estado de foco que sabemos não ser fácil de alcançar.
Todos os dias da nossa vida, nós somos presenteados com um corpo que contém uma quantidade finita de energia. A medida que o dia vai passando, essa energia vai diminuindo. No fim da tarde, já estamos no modo economia e só queremos ir para casa tomar banho e vestir roupas confortáveis.
Achei importante trazer o assunto para vocês porque estamos aqui para realizar nossos objetivos e sonhos. Mas para isso precisamos de energia, e como ela é finita, não é muito inteligente desperdiçar tentando fazer várias coisas ao mesmo tempo.
E nós somos muito inteligentes, certo?