Passei anos da minha vida desejando ser várias coisas. Eu inventava e reinventava o que seria a carreira ideal para mim.
Até o dia de hoje, eu tive mais dúvidas do que certezas. Mas isso não é um problema. O problema é o abismo de diferença que existe entre o fato de você ter dúvidas sobre seu futuro e o fato de você desejar que seja perfeito. Há uma diferença gritante.
Uma imersão em autoconhecimento pode ajudar a superarmos o obstáculo da dúvida. Mas passar por cima do perfeccionismo não é uma tarefa simples. O perfeccionismo nos prende ao chão. Não nos deixa avançar.
Eu já entrei e saí de 7 possibilidades de carreira. Em todas elas eu começava super animada. E aí com o tempo a empolgação ia desaparecendo.
Sempre tive certeza que teria sucesso em qualquer uma das opções. Mas mesmo assim, eu desistia de cada uma, me forçando a acreditar que não era para mim.
E então eu me via outra vez em estado de inércia, para depois engatar em alguma outra ideia. De novo e de novo.
O motivo desses inúmeros recomeços foi exigir demais.
Eu esperava que a animação continuasse comigo. Pensava que seria empolgante acordar todos os dias para trabalhar nas metas. Esperava me identificar 100% com tudo sobre a carreira.
Queria ter as mesmas ferramentas das pessoas do Instagram. Queria ter o apoio de todas as pessoas importantes para mim. Esperava que todo mundo achasse um máximo a minha ideia. E o pior de tudo, eu esperava que todo o processo fosse perfeito.
Eu sempre me cobrei muito. Ignorava o fato de estar apenas começando e me comparava com pessoas que já tinham sucesso. Essa comparação é inevitável até hoje. Sempre vai existir alguém um passo à frente.
Em determinado momento, eu me senti completamente perdida. Porque quando concentramos nossa atenção em tentar ser perfeito, nós deixamos de lado nossa essência e isso nos cega.
Eu ficava tão obcecada na tentativa de perseguir a perfeição que acabava deixando pelo caminho todas as razões que me levaram a começar.
À essa altura eu já havia decidido que iria procurar um psicólogo. Pode parecer bobagem, mas foram 4 anos sem sair do lugar. E não era o caso de estar estagnada por não fazer nada a respeito.
Eu dormia e acordava pensando no futuro. Não entendia como era possível querer tanto evoluir e ainda assim não sair do lugar. Isso me gerou várias crises de ansiedade.
Depois de muita introspecção e uma breve (porém essencial) conversa com um grande amigo, eu me encontrei. Perdoe o clichê, mas não existe outra combinação de palavras que expressem melhor o que eu senti.
Não precisei de terapia. Só precisei olhar para dentro e procurar as respostas mais sinceras possíveis. E com a ajuda desse amigo – que tem o dom de extrair o melhor das pessoas – eu consegui me observar por outro ângulo. Como se eu saísse de mim e me observasse de fora.
Refleti sobre minhas habilidades, meus hobbies, meus assuntos preferidos e o que para mim é indispensável em uma carreira. E então passei alguns dias pensando e pesquisando sobre onde eu poderia reunir todas essas coisas.
Foi assim que cheguei até aqui. E ainda é difícil.
É uma batalha todos os dias. Sempre que o monstrinho da perfeição vem falar no meu ouvido eu ligo o f0d@-$e bem alto, e aí a voz dele fica quase inaudível.
Como todas as outras vezes que comecei algo, estou começando novamente. Mas dessa vez com a certeza de que não vou agradar a todos. Isso é libertador.
Finalmente aprendi que o crescimento é desconfortável porque meus sonhos estão do lado de fora da zona de conforto. Eu também estou fora dessa zona e não tenho nenhuma intenção de voltar.